domingo, julho 08, 2012

EU SOU ENFERMEIRA, E TU?

Na escola de enfermagem aprendi que um enfermeiro deve ser antes de mais um profissional capaz de não se deixar dominar por emoções. Perante as situações mais difíceis devemos transparecer calma de modo a transmitir segurança a quem precisa de nós. Ao entrar no local de trabalho, devemos deixar a vida pessoal à entrada.Como se ao vestirmos o uniforme, vestíssemos uma personagem, como um actor. Ora a vida veio a demonstrar-me que nada disto é assim tão linear. A enfermeira não é um ser frio e impermeável a emoções. O enfermeiro quando entra no local de trabalho distancia-se dos problemas pessoais menores, mas não deixa de ser mãe, esposa, filha... assim como quando despe o uniforme não consegue deixar na bata a preocupação com determinado doente. O enfermeiro vive a sua profissão com alegria, com amor, com sentimento! Lamento mas não consigo confiar num enfermeiro que não demonstra emoções no seu trabalho, que está sempre ansioso pela chegada do fim do turno, porque só está ali para cumprir o seu horário. Nem acredito no enfermeiro que usa e abusa da profissão como trampolim para altos e ambiciosos voos. Não acredito no teórico de enfermagem que dá aulas de enfermagem sem ter vivido a enfermagem e fala como um papagaio as frases feitas que vêem nos manuais. Não acredito em enfermeiros que nunca viveram o desespero de perder um doente que acompanharam meses a fio e falam de cuidados paliativos... Não acredito em enfermeiros que ensinam cuidados de reabilitação sem nunca terem participado nos primeiros cuidados de higiene a um doente tetraplégico, no qual ele toma consciência da plenitude da sua incapacidade... Não acredito em enfermeiros que administram aulas de enfermagem pediátrica sem nunca terem assistido ao drama de uma família que toma conhecimento de uma doença oncológica da sua menina de 2 anos de idade... Não acredito no enfermeiro que fala com grande conhecimento teórico de cuidados continuados, mas que nunca viveu o drama de um doente que no dia de alta para domicilio não tem ninguém em casa para o ajudar... Acredito em todos os enfermeiros que vivem a realidade do seu serviço como de um casamento se tratasse, nos bons e nos maus momentos, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza. Os enfermeiros são seres humanos que dão parte da sua vida pela profissão que escolheram, por isso dói tanto quando mudam de local de trabalho, porque essas mudanças exigem uma reorganização de emoções que nem sempre é fácil. Porque é isso que distingue os enfermeiros dos técnicos de enfermagem. Os técnicos de enfermagem passam por cada serviço com um operário que trabalha nunca indústria de produção em série, todos os doentes são iguais aos seus olhos, os seus gestos são frios e executados com precisão. Nunca se envolve, nunca se deixa envolver, nada o desvia das suas funções. Agora fazendo esta descrição parece-me que, cada vez mais, é isto que pretendem de todos os enfermeiros! Mas as nossas funções vão muito mais além de dar um comprimido para as dores... As nossas funções vão muito além de mudar a fralda...monitorizar a temperatura ou a tensão arterial... A Enfermagem é cuidar, é comunicar, é ouvir, é tocar, é olhar, é sorrir, é aconselhar, é guiar, é acompanhar e claro também medir, trocar, vestir, ensinar, executar, instruir, posicionar... E tu que acabas de sair da escola que enfermeiro queres ser? Bem... talvez, para já, podia ser um enfermeiro... empregado, não?